Fundadora e responsável pela realização do evento, Lea Teixeira comemora o aumento nas inscrições para a edição de 2016 e fala ao Portugal Digital sobre a organização do Festival do Cinema Itinerante de Língua Portuguesa, que decorrerá, na sua 7a edição, em Lisboa.
Por Rosana Tonetti (http://www.portugaldigital.com.br)
Brasília – Criado em 2010, o FESTin – Festival de Cinema Itinerante da Língua Portuguesa se consolidou como espaço dedicado ao fomento e à difusão da cinematografia lusófona na Europa. O evento, que em 2016 entra em sua 7a edição, computa a inscrição de 543 obras cinematográficas originárias da Comunidade de Países de Língua Portuguesa – CPLP. Um aumento de quase 25% em relação à competição do ano passado, com 440 adesões. As inscrições para 2016 se encerraram em novembro.
Há 16 anos radicada em Portugal, a brasileira Lea Teixeira, fundadora e responsável pela promoção do FESTin, comemora os números. “A cada ano, o evento se torna mais conhecido, atraindo o interesse das produções em participar da mostra. Isso é muito gratificante.”
Uma comissão julgadora, formada por representantes de cada um dos países participantes, irá selecionar cerca de 90 películas, dentre as 543, para serem exibidas durante o festival, que acontece de 7 a 11 de maio, no Cinema São Jorge, em Lisboa. O público estimado para os cinco dias do evento é de mais de sete mil espectadores.
Com a entrada recente de Guiné Equatorial, o FESTin passou a integrar nove nações, formada ainda por Brasil, Portugal, Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste.
Em dezembro, o FESTin esteve na Guiné Bissau cumprindo a agenda de itinerância 2015. Foram apresentados dez filmes nos formatos curta, média e longa metragens de ficção, animação e documentários. No Carnaval, o festival volta ao território guineense. Desta vez, para colaborar com a produção de um documentário de resgate à cultura local por meio da música. Em outubro, a itinerância leva seções para o Timor-Leste. Depois, segue para Óbidos, pequena cidade classificada pela Unesco como patrimônio mundial, no litoral da região oeste de Portugal.
Em entrevista exclusiva ao Portugal Digital e África 21 Digital, Lea, que também é jornalista, fala da sua paixão por cinema, as perspectivas e o cenário atual dos audiovisuais produzidos em língua portuguesa, além das dificuldades para a realização da mostra.
Portugal Digital – Como surgiu a ideia para a realização do FESTin?
Lea Teixeira – Como jornalista, sempre fiz cobertura de muitos festivais de cinema. Nisso, observava que havia poucos filmes brasileiros e que também não existia um evento dedicado exclusivamente às produções de língua portuguesa. Em conversa com uma amiga, também jornalista e brasileira, Adriana Niemeyer, decidimos elaborar um projeto e apresenta-lo à CPLP, sediada em Portugal, e à Câmara de Lisboa, que apoia a CPLP. Ambas acharam a ideia interessante e a abraçaram.
PD – A cada nova edição do FESTin, o que mais lhe chama a atenção quando o assunto é cinema de língua portuguesa?
LP – No Brasil, os filmes estão cada vez mais fortes, com uma cinematografia imensa. Embora muito boa, ela é desconhecida para a maioria dos brasileiros; e fora do País, mais ainda. Investimos demais nos festivais de Cannes, na França, e no de Berlim, na Alemanha; eventos onde a concorrência é grande e raramente conseguimos um prêmio. Por isso, nossa ideia, desde o início, é realmente difundir a cinematografia da CPLP como um todo, mas puxando para o Brasil.
PD – O FESTin tem participação dentro de outros festivais?
LT – Recentemente, o Instituto Camões nos chamou para realizar uma mostra na Romênia. Estamos estudando o calendário. Mas não estamos presentes apenas nos países de língua portuguesa. Em 2015, o FESTin foi apresentado em parceria com festivais realizados em Zimbabwe, Quênia e Bangcoc (Tailândia). Sempre enviamos, para divulgação, um filme brasileiro, um português e um africano.
PD – Quais as dificuldades enfrentadas nas produções brasileiras, tanto para o mercado interno quanto para o externo?
LT – As dificuldades enfrentadas pelo Brasil são as mesmas de Portugal. Não há salas para a divulgação do cinema de língua portuguesa. Há, ainda, poucas distribuidoras e os custos são altos. E mesmo aquelas que o fazem nem sempre trabalham para que determinado filme tenha o êxito merecido. Portugal tem bons filmes e o mercado está crescendo. Porém, em 2013, o Ministério da Cultura português não teve recursos para financiar produções audiovisuais. E quase todos os patrocínios para os filmes são provenientes do governo. Mas o atual primeiro-ministro, Antônio Costa, está fazendo um excelente trabalho nesta área. Por isso, acredito que o cinema, e a cultura em geral, no país volte a crescer. Já o Brasil, se encontra em situação mais favorável. Os incentivos governamentais, e também o da iniciativa privada, são maiores. Não saberia afirmar se isso ocorre em todo o Brasil, mas em Aracaju[ capital de Sergipe, região nordeste do Brasil], por exemplo, há salas exclusivas para a exibição de filmes nacionais. E isso faz diferença.
PD – Em um país de dimensões continentais, como o Brasil, existe algum estado que se destaca na produção de filmes nacionais?
LT – Todo mundo agora só fala em Pernambuco, onde produções diversas têm crescido muito, com o surgimento de novos cineastas e que estão se tornando nomes consagrados. O Rio é sempre Rio e há também São Paulo, claro. Já o Rio Grande do Sul é o estado que mais inscreve filmes no FESTin. Não entendo muito bem o motivo.
PD – E como estão as inscrições nas produções nos demais países da CPLP?
LT – Para a próxima edição, saindo do eixo Brasil-Portugal, os países que mais tiveram filmes inscritos foram Cabo Verde, seguido de Angola.
PD – Dos filmes inscritos para concorrer ao festival, quantos, em média, você consegue assistir?
LT – Assim que abrem as inscrições, já começo a dedicar meu tempo para ver as obras cinematográficas. Consigo assistir a quase 90%. Sou apaixonada por cinema, quero ver tudo.
PD – Como se dá a seleção do júri?
LT –Ele começa a ser escolhido em janeiro com um representante de cada um dos nove países. Para evitar que se torne tendencioso, a seleção do júri é bastante eclética, mas sempre com nomes ligados, de alguma maneira, ao cinema. Por isso, formamos a comissão com literatos, críticos, jornalistas e até cineastas e produtores, desde que não tenham obras inscritas no festival. Um mês antes do evento, divulgamos a lista para a imprensa, bem como as categorias e os filmes que estarão concorrendo.
PD – Como organizadora e fundadora do FESTin, quais as obras que você já viu passar durante esses seis anos do evento que mais lhe tocaram a alma cinéfila?
LT – São tantos filmes bons! Mas gostei muito do documentário Elena, dirigido por Petra Costa. Ele foi premiado em diversos festivais e bastante aclamado pela crítica. Mas Njinga, Rainha de Angola, de 2013, baseado no romance do escritor angolano José Eduardo Agualus (A Rainha Ginga), merecia uma produção hollywoodiana. A história narra a trajetória de uma das mais importantes mulheres africanas do século XVII. Fiquei fascinada. Pena que a produção é fraca.