Estamos na “época alta” dos festivais e mostras de cinema. Não falta oferta, algo que dificulta cada vez mais a escolha dos eventos a seguir de perto, ou a cobrir de forma exaustiva. Este ano as minhas escolhas recaíram no 8 1/2 Festa do Cinema Italiano e no FESTin (Festival de Cinema Itinerante da Língua Portuguesa). O IndieLisboa ficou de lado devido a várias razões que não estão ligadas ao festival (nem vou expor neste texto). Se a cobertura da edição de 2016 do 8 1/2 Festa do Cinema Italiano foi abordada num breve balanço, já a decisão de cobrir o FESTin é uma das várias temáticas deste texto. Diga-se que os motivos para cobrir o FESTin são relativamente óbvios, ou este festival não surgisse como um veículo privilegiado para ver filmes oriundos do Brasil (e não só, mas já lá vamos) numa sala de cinema, algo que é bastante raro. Lembram-se de “O Lobo Atrás da Porta” ter estreado em circuito comercial? A distribuidora e a imprensa profissional concederam pouca atenção ao filme, com “O Lobo Atrás da Porta” a ter estreado em Portugal a 29 de Outubro de 2015, de forma praticamente silenciosa, quase sem se dar por isso. O tratamento dado a “O Lobo Atrás da Porta” não é único ou exclusivo de uma distribuidora e remete para algo notório quando observamos as estreias em circuito comercial em Portugal, ou seja, o cinema brasileiro é praticamente ignorado. Nesse sentido, a escolha de cobrir o FESTin torna-se relativamente fácil de efectuar, ou este não surgisse como um certame que permite dar a conhecer um pouco das vastas e diversificadas produções cinematográficas brasileiras, respeitando e valorizando as mesmas, algo que atribui uma relevância indelével ao festival. É certo que a programação do FESTin conta com filmes de diversos países de língua portuguesa, mas o seu grande chamariz centra-se nas obras cinematográficas oriundas do Brasil. Diga-se que o FESTin é um festival pelo qual tenho um especial apreço. É o certame que já me “deu” filmes como “Elena” (se ainda não viram o filme, parem de ler este texto e vejam a magnífica obra de arte realizada por Petra Costa), “A Despedida”, “A Memória que me Contam”, “A Vizinhança do Tigre”, “Uma Dose Violenta de Qualquer Coisa”, entre outros exemplos que me marcaram pela positiva. Também já me deu desilusões como “Pecado Fatal”, ou “Jogo de Xadrez” mas, no cômputo geral, as experiências da cobertura das edições de 2014 e 2015 foram bastante positivas. Nesse sentido, espero muito do FESTin em 2016, ou seja, uma amostra de obras cinematográficas que reflictam algum do bom cinema que está a ser feito pelo Brasil. É óbvio que também vou deparar-me com desilusões, mas isso faz parte da cobertura de um festival, em particular, a formação de novos amores e ódios. A própria secção competitiva de longas-metragens revela exactamente essa procura de exibir uma amostragem mais lata daquilo que é produzido no Brasil. Não faltam filmes para toda a família (“A Família Dionti”), mais comerciais (“Mundo Cão”, realizado por Marcos Jorge e protagonizado por elementos como Lázaro Ramos, Babu Santana, Milhem Cortaz e Adriana Esteves), premiados em festivais (“A História da Eternidade” – provavelmente um dos grandes filmes desta edição; “Ausência”; “Fome”), entre outros.
A competição de longas-metragens marca o regresso de um filme de Caio Soh ao FESTin, com o cineasta a trazer “Por Trás do Céu”, com esta secção a contar ainda com “Amores Urbanos” (realizado por Vera Egito), “Histórias de Alice” (uma co-produção entre Portugal e o Brasil que conta no elenco com Ana Moreira e Filipe Duarte), “Maresia”, “Cartas de Amor São Ridículas” (o filme de abertura) e “Zenaida” (o único representante de Cabo Verde nesta secção competitiva). Ou seja, temos onze obras cinematográficas relativamente diversificadas, com “A História da Eternidade” a parecer surgir como um dos grandes destaques, com Camilo Cavalcante a contar com uma estreia em grande na realização de longas-metragens (os elogios da crítica têm sido merecidos). O meu maior problema passa por conseguir ver e escrever sobre todos os filmes que coloquei na minha lista. Mais uma vez, sei que vou deparar-me com algumas desilusões, mas as surpresas positivas de cobrir o FESTin têm compensado as primeiras. Algo que desperta a minha atenção nesta edição é a sua nova secção, em particular, a FESTin Arte (que apenas peca por escassa). Todos os festivais precisam de se reformular e criar novos estímulos para o público, algo que não é diferente no FESTin, uma situação que se torna notória quando observarmos a secção FESTin Arte’16. É a estreia de uma secção que é descrita da seguinte forma: “A vocação experimental dos festivais é formalmente enquadrada por uma das novidades desta 7ª edição do FESTin, a inauguração da secção FESTin ARTE. É nela que surgem selecionadas propostas particularmente estimulantes para todos aqueles que procuram obras diferentes das convencionais. Somada à uma obra exclusiva desta secção, são apresentados também dois projetos das competições de longas de ficção e documentário“. A obra exclusiva desta secção é “Clarisse ou Alguma Coisa Sobre Nós Dois”, o filme que conclui a “trilogia da morte” de Petrus Cariry (o realizador). Os outros dois intrusos, ou seja, aqueles que também fazem parte de secções competitivas são “Fome”, uma obra cinematográfica realizada por Cristiano Burlan, para além de “O Touro”, um documentário realizado por Larissa Figueiredo que promete ser uma das propostas mais estimulantes do festival. Estreado no Festival de Roterdão, “O Touro” promete desafiar as barreiras do documentário e da ficção, um pouco como “A Vizinhança do Tigre” efectuou na edição de 2015 do certame, algo notório na sinopse disponibilizada pelo FESTin: “A história do rei Dom Sebastião não acabou com o seu desaparecimento em Marrocos. O seu espírito tornou-se líder de um exército que foi dar à Ilha de Lençóis, litoral norte do Brasil, onde se tornou figura central da mitologia da comunidade. É isso que vai lá descobrir a atriz portuguesa Joana de Verona, numa convivência aprazível e cheia de surpresas com os habitantes da localidade“. “O Touro” faz parte da secção competitiva de documentários, uma das mais promissoras do certame, que conta com obras cinematográficas como “Olhar de Nise”, “A Loucura Entre Nós”, “Central”, “Deportados” (o único documentário de Cabo Verde a constar nesta secção) e “Do Outro Lado do Atlântico”. Outra das obras cinematográficas da Competição de Documentários que despertou a minha atenção foi “Olhar de Nise”, um documentário realizado por Jorge Oliveira e Pedro Zoca. A sinopse é a seguinte: “Em 1946, ao sair da prisão política, a jovem psiquiatra Nise da Silveira volta ao Hospital Psiquiátrico no subúrbio do Rio de Janeiro, recusa-se a usar o choque eléctrico e adopta a arte terapêutica para tratar dos seus pacientes. Nos ateliers de pintura surgem talentosos artistas que surpreendem o mundo das artes. As pinturas encantam C.G. Jung e dão origem ao Museu das Imagens do Inconsciente que hoje possui mais de 350 mil obras“.
A programação do FESTin não se fica por aqui. Veja-se a Mostra Brasileira de Longas, uma secção que conta com o filme de encerramento do FESTin 2016, em particular, “Jonas” (não é um filme biográfico sobre o ponta de lança do Benfica), uma obra cinematográfica realizada por Lô Politi. Esta secção conta ainda com “Beatriz” (co-produção entre Portugal e o Brasil, que conta no elenco com Marjorie Estiano, Sérgio Guizé e Beatriz Batarda), “A Floresta que se Move” (protagonizado por Gabriel Braga Nunes, Ana Paula Arósio e Nelson Xavier), “A Grande Vitória” (também composto por um elenco recheado de caras conhecidas, tais como Caio Castro, Sabrina Sato, Tato Gabus Mendes). Se a competição de longas-metragens e documentários contou apenas com dois filmes oriundos dos PALOP, já a Homenagem à CPLP, promete apresentar obras cinematográficas de países como Moçambique (“Maputo”), Angola (“Crianças Acusadas de Feitiçaria”), Guiné-Bissau (“África Abençoada”), São Tomé e Príncipe (“Manuel”), com algumas fitas a surgirem em co-produção com Portugal. Diga-se que “Beatriz” também faz parte desta secção, que é descrita da seguinte maneira: “O 20º aniversário da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) é lembrado nesta mostra que se divide entre filmes de ficção, documentários e uma mostra infantojuvenil, trazendo produções oriundas do Brasil, Portugal, Angola, Moçambique e São Tome e Príncipe como forma de retratar a rica diversidade cultural encontrada nesses países que têm em comum a língua portuguesa“. A programação do FESTin conta ainda com outras secções e actividades paralelas (veja-se as célebres Mesas-Redondas), algo que pode ser consultado no site do Festival. A sétima edição do FESTin vai decorrer entre os dias 4 e 11 de Maio de 2016. O filme de abertura é “Cartas de Amor São Ridículas”, que vai ser exibido às 21h, no dia 4 de Maio, na Sala Manoel de Oliveira, do Cinema São Jorge, com o FESTin a abrir com uma “(…) história de cinco noivas à espera de casamento cujos encontros e desencontros são marcados pela poesia de Fernando Pessoa – que inspira o título com um dos seus mais famosos poemas“. Se “Cartas de Amor São Ridículas” abre a edição de 2016 do Festival de Cinema Itinerante da Língua Portuguesa, já “Jonas” fecha o certame (11 de Maio). “Jonas” marca a estreia de Lô Politi na realização de longas-metragens. O filme conta com a seguinte sinopse: “Jonas (Jesuíta Barbosa) é um rapaz pobre que vive de pequenos trabalhos esporádicos e que reencontra, depois de 20 anos, Branca (Laura Neiva), uma menina rica pela qual nutre uma paixão que vem desde a infância. Depois de um acontecimento trágico e fortuito, no entanto, a história toma um rumo vertiginoso onde drama, policial e aventura misturam-se nesta proposta cheia de energia“. Ao todo, a edição de 2016 do FESTin conta com a presença de setenta e quatro filmes (entre longas e curtas-metragens), que vão ser exibidos entre os dias 4 e 11 de Maio, com estes dias a prometerem trazer diversas descobertas cinematográficas que, muito provavelmente, serão praticamente impossíveis de visionar em circuito comercial (em Portugal).