Retrospectiva Jardel Filho

 

A 3ª edição do FESTin homenageia o ator Jardel Filho (1927-1983), exibindo quatro dos filmes mais marcantes da sua carreira: Terra em Transe (1967), de Glauber Rocha; Macunaíma (1969), de Joaquim Pedro de Andrade; Pixote – a lei do mais fraco (1981), de Hector Babenco; e Rio Babilónia (1982), de Neville D’Almeida.

O ator Joel Barcellos, que contracenou com Jardel Filho em Rio Babilónia, marcará presença no festival, com o apoio da TAP.


JARDEL FILHOJARDEL FILHO

A vida e a carreira de Jardel Filho quase se confundem com a história do teatro, do cinema e da televisão brasileira. Jardel Filho participou nas principais companhias teatrais. Atuou em inúmeras peças, mais de setenta produções cinematográficas, incontáveis shows, musicais, espetáculos de TV, entre teleteatro, telenovelas e especiais, recebendo quase todos os prêmios, consecutivamente, desde a sua estreia, em todos os gêneros que trabalhou. Ao longo da sua trajetória, Jardel protagonizou marcos históricos do processo de desenvolvimento da linguagem e da qualidade técnica nos multimeios em que se destacou, como por exemplo, o primeiro filme colorido em cinemascope do Brasil, como também, o primeiro beijo colorido da televisão brasileira, sem esquecer os ícones do Cinema Novo, como Terra em Transe e Macunaíma. Segundo texto do próprio Jardel, "os artistas nascem e vivem com a nobre missão de suavizar os sofrimentos daqueles que nascem apenas para viver". Assim nasceu, assim viveu Jardel Filho, deixando o seu exemplo para a posteridade e servindo como fonte genuína de pesquisa e referência para o futuro.

 


TERRA EM TRANSE

TERRA EM TRANSE
Brasil, 1967, 106′
Realização: Glauber Rocha
Elenco: Jardel Filho, Paulo Autran, José Lewgoy, Hugo Caravana, Paulo Gracindo, Danuza Leão, Mário Lago.

Trailer: www.youtube.com/watch?v=0cVB5rZDNOA

Em finais de 66, Jardel Filho integra o elenco de uma das mais importantes obras cinematográficas brasileiras. Sob a direção de Glauber Rocha, Jardel protagoniza um dos marcos do Cinema Novo brasileiro, na pele do jornalista e poeta, Paulo Martins. Com um elenco de grandes intérpretes, o filme conquista o júri e público do Festival de Cannes. No inverno de Paris, o sol de um país tropical em transe, revela a força do Cinema Novo. Após o êxito de Deus e o Diabo, Glauber Rocha é um dos mais discutidos cineasta da Europa.
"Vigorosa e visionária alegoria política sobre o Brasil e a América Latina tendo como temas centrais o populismo, as utopias libertárias de esquerda e o concerto barroco de diversas culturas (africana, índia, branca), Terra em Transe tem um entrecho ficcional que já antecipa o questionamento de Glauber às noções ainda resistentes de trama e narrativa. Abolindo a ordem cronológica e adotando um acento fortemente operístico e carnavalizante, é um dos filmes-manifesto do Cinema Novo. A "história" se passa em Eldorado, país imaginário da América Latina, onde o poeta e intelectual burguês Paulo Martins vê frustrar-se a sua esperança de que o Governador da Província de Alecrim e líder político Dom Felipe Vieira (José Lewgoy) seria uma alternativa política ao conservador Dom Porfírio Diaz (Paulo Autran), ditador fascista que apela ao misticismo para preservar o poder. Entre estes, se interpõe a figura do capitalista Júlio Fuentes (Paulo Gracindo), que apesar de se declarar de esquerda acaba se aliando ao ditador Diaz. Ao lado de Sara (Glauce Rocha), uma intelectual comunista, Paulo Martins não vê outra solução a não ser a violência revolucionária suicida".

HORÁRIO: 14 Maio, 16h30 (Sala 3)

In www.tempoglauber.com.br/glauber/Filmografia/terra.htm


MACUNAÍMAMACUNAÍMA
Brasil, 1969, 110′
Realização: Joaquim Pedro de Andrade
Elenco: Grande Otelo, Paulo José, Jardel Filho, Dina Sfat.

Em finais de 1968, Jardel Filho integra o elenco de Macunaíma, mais um ícone do Cinema Novo brasileiro. Com guião baseado na obra homônima do escritor Mário de Andrade, o filme conta a historia de Macunaíma, interpretado por Grande Otelo quando criança e por Paulo José quando se transforma no príncipe. Uma espécie de anti-herói brasileiro, que nascido preto e no meio do mato, abandona o seu local de origem, para, com seus dois irmãos, conquistar as "maravilhas da cidade grande". No decorrer da viagem uma fonte de poderes mágicos transforma-o em branco, louro e príncipe, aumentando enormemente o seu prestígio. Ao chegar à cidade enamora-se de uma guerreira do asfalto (Dina Sfat), e encontra no gigante comedor de gente "Venceslau" (Jardel Filho), o seu grande inimigo, com quem irá disputar um precioso amuleto da sorte.
Macunaíma foi considerado uma obra-prima na Europa. No V Festival de Brasília arrecadou quase todos os prêmios: nada menos do que seis troféus oferecidos pelo Instituto Nacional do Cinema. Jardel Filho recebeu o "Troféu Candango" e o prémio de "Melhor Ator Coadjuvante", pela sua interpretação do gigante canibalesco "Venceslau".

HORÁRIO: 12 Maio, 16h30 (Sala 3)

 


PIXOTE

PIXOTE – A LEI DO MAIS FRACO
Brasil, 1981, 128′
Realização: Hector Babenco
Elenco: Fernando Ramos da Silva, Marília Pêra, Jardel Filho, Rubens de Falco, Elke Maravilha.

Neste filme, Hector Babenco construiu um dos mais cruéis retratos da realidade nas ruas de São Paulo, onde crianças perdem a inocência ao entrarem num mundo de crimes, prostituição e violência. Pixote – A Lei do Mais Fraco conta a história de Pixote, um menino que foi abandonado pela família. Passa a viver na rua e rapidamente começa a roubar e a traficar. é internado num reformatório para delinquentes juvenis (FEBEM), uma verdadeira escola de crime, onde as crianças são violentadas pelos guardas. Pixote foge do reformatório e, aos 11 anos, torna-se um traficante de drogas, proxeneta e assassino.
O filme foi concebido em estilo de documentário, fortemente influenciado pelo neorrealismo italiano. Fazem parte do elenco vários atores amadores com vidas muito semelhantes às dos personagens do filme. O ator Fernando Ramos da Silva, que interpreta o personagem principal, tempo depois do êxito do filme, voltou à sua vida de sempre. Retornou à criminalidade e foi assassinado pela polícia em assassinado em 1987.
Pixote – A Lei do Mais Fraco recebeu uma nomeação para o Globo de Ouro, na categoria de Melhor Filme Estrangeiro, e ganhou o Leopardo de Prata, no Festival de Locarno.

HORÁRIO: 10 Maio, 19h (Sala 3)


RIO BABILÔNIARIO BABILÓNIA [Com a presença do ator Joel Barcellos]
Brasil, 1982, 115′
Realização: Neville de Almeida
Elenco: Joel Barcellos, Christiane Torloni, Jardel Filho, Norma Bengell, Tânia Bôscoli.

Rio Babilônia formou gerações e gerações de adolescentes em fúria, desde sua estreia em 1982. As reprises nas madrugadas de algumas redes de televisão eram comentadíssimas, e, nos tempos pré-internet, o tráfico de informações a seu respeito era intenso. As atrizes, as cenas de quase pornô, o sol, a cocaína, o suor e a cerveja estão impregnados no filme que, apesar de cortes sorrateiros – para adocicar o sexo explícito –, era assistido com louvor nas boas casas de família.
Chama a atenção, antes de mais nada, a escolha de Joel Barcellos para galã, atendendo pelo simpático nome de "Marciano", profissional de uma agência de turismo, encarregado de assessorar os visitantes que chegam ao Rio. Um deles é o Dr. Liberato (Jardel Filho), recém-chegado ao Brasil após muitos anos no exterior. Christiane Torloni é Vera Moreira, a "intrépida repórter que desmascara poderosos" (sempre havia uma!) e investiga a denúncia de contrabando de ouro praticado pelas fazendas do Dr. Liberato. Este é o triângulo principal de Rio Babilônia, pelo menos no script, porque a ele se somarão dezenas de transeuntes, em poses espetaculares. (…) Jardel Filho, em seu último trabalho, nada lembra o tuberculoso de Floradas na Serra ou o poeta verborrágico de Terra em Transe. Em Rio Babilônia aparece de cuecas, calças pelos tornozelos, além de, próximo ao término do filme, protagonizar inacreditável cena de amor com um travesti – este, em nu frontal. (…) A badalação nas festas de Rio Babilônia é intensa; trocas de olhares breves, consumações longas. Favelas, lixo, city-tour e algo próximo de uma crítica social. "Ninguém segura a juventude do Brasil" era slogan cantado por Don e Ravel, durante o regime militar. Passados alguns anos, ela estava turbinada, em sonhos megalomaníacos, consumindo doses e doses de uísque e pó, no satirismo próprio de uma cidade e de um cinema que não se levavam a sério e, que por isso mesmo, seduziam e encantavam tanto."
Por Andrea Ormond | advogada, escritora e pesquisadora de cinema brasileiro.

HORÁRIO: 13 Maio, 22h (Sala 3)

In: estranhoencontro.blogspot.pt/2005/10/rio-babilnia.html